Os Ranchos de Vila do Conde
e a história da sua indumentária


Primeiro Rancho da Praça - 1920

Temos verificado com certo prazer que os Ranchos de Vila do Conde vão interessando algumas pessoas da nossas Terra, porque alguns artigos teem aparecido sobre o assunto neste Jornal.

Não queremos de forma alguma, levantar qualquer polémica ao escrever estas linhas, mas muito simplesmente fazer um pouco de história, trazendo à luz do dia factos passados e, talvez, já esquecidos…

Os Ranchos do “Monte” e da “Praça” foram creados há mais de um quarto de século. Até ali nunca existiram Ranchos organizados em Vila do Conde. Nas Festas de S. João, segundo dizem as pessoas mais avançadas na idade, juntava-se o povo da nossa Terra, sem distinção de classes e iam em rancho visitar as freiras do Convento, a milagrosa Fonte de S. João e o Mar, cantando quadras alusivas ao bom Santo, orago da Vila.

Era assim que se festejava o S. João e o povo se associava à Festa. Há. Portanto, como acima dizemos, mais de um quarto de século que os Ranchos desta Vila se apresentaram ao público, creados exactamente numa época em que, no País, ao menos com nosso conhecimento, não havia qualquer outro Rancho, pois os de Coimbra tinham acabado.

Primeiro Rancho da Praça Infantil - 1925

Mas, contudo, nesse tempo falava-se muitos Ranchos que Coimbra tivera e que tinham deixado a todos que os conheceram as mais gratas recordações.

Os nossos Ranchos nasceram, pois, sob a influência coimbrã, influência que provinha de alguns dos seus organizadores terem vivido, quando estudantes, a alegria esfusiante que esses Ranchos imprimiram às festas de Coimbra.

No momento da sua organização não houve a preocupação da sua indumentária, tendo-se apresentado em público com os trajes que naquele tempo se usavam em Vila do Conde.

Estes trajos, que devem estar na lembrança de todas as pessoas que viveram naquela época, compunha-se de saia comprida, com roda, blusa de chita com folho sobre a saia e avental comprido, liso, do mesmo tecido. Foram assim que os Ranchos, que durante alguns anos, se apresentaram nos pavilhões nas Festas de S. João.

Rancho da Praça - 1929

Pouco tempo depois veio a moda, importada do estrangeiro, principiando-se a usar a saia curta e os Ranchos também principiaram a usar esta nova modalidade, apresentando-se a dançar com saia curta, sem roda, de cor azul, blusa de cor garrida e avental bordado, com desenhos futuristas.

Par do Rancho da Praça com novo trajo

A influência de Coimbra nunca deixou de predominar nos nossos Ranchos as suas características e mais se acentuou, porém, quando os ensaiadores daquela cidade foram contratados para virem ensaiar as nossas Rendilheiras.

Pode-se mesmo afirmar, sem receio de desmentido, que sempre procuramos imitá-los o mais possível chegando o nosso saudoso Duarte Silva, em certo ano a ter apresentado o seu Rancho a dançar, por ocasião do S. João, com a indumentária à moda de Coimbra, isto é, à tricana, com chale trançado no ombro.

É que Vila do Conde nunca possuiu qualquer indumentária característica que pudesse ser aproveitada para um dos nossos Ranchos. Assim, cresceu a ideia, dentro do Rancho da Praça de se conseguir um trajo, embora o não tivesse sido usado dentro da Vila, o pudesse ter sido em qualquer das suas muitas freguesias.

Rancho da Praça - 1962

Um nosso amigo, em determinada altura, lembrou o trajo maiato que, em tempos remotos, fora usado nas nossas freguesias do Sul, como o trajo mais adequado e próprio para ser adaptado pelas nossas Rendilheiras quando se apresentassem em público nos pavilhões porque, a par do sabor regional, era nosso e não importado de qualquer terra estranha ao nosso Concelho, nem tão pouco uma moda que tivesse vindo do Estrangeiro, como o eram as saias curtas e sem roda.

Rancho da Praça - 2009

O “Monte”, sabedor que esta nova modalidade ia ser posta em execução pelo “Rancho da Praça”, antecipou-se e fez fotografar duas raparigas vestidas com o referido trajo, principiando assim desde essa ocasião os Ranchos de Vila do Conde a usarem os trajos com que actualmente se apresentam em público.

Par do Rancho da Praça com trajo actual

E com esta pequena descrição deixamos a claro a obra dos costureiros de que, ultimamente, tanto se tem falado…


In “A Renovação” 25-10-1947