SÃO JOÃO DE 1999

É indesmentível que a participação global do Rancho da Praça nas Festas de São João deste ano teve um nível bastante alto, e, segundo muitos comentários que se foram ouvindo, terá sido uma das melhores prestações do nosso Rancho, dadas as várias inovações introduzidas, o que nos enche naturalmente de alegria e de júbilo.

Dado que os jornais locais são sempre muito parcos em notícias do São João, é importante que fique registado para os vindouros no que consistiu afinal a participação do Rancho da Praça no ano de 1999. Com a informação escrita que temos em Vila do Conde em que os jornais estão muito mais interessados em esgrimir entre si muitas vezes sobre assuntos que não interessam às populações, daqui a alguns anos, quando os jovens de hoje então mais maduros quiserem lembrar-se do passado, não têm qualquer base histórica de suporte para o fazer.

Por isso, de maneira mais ou menos sucinta descrevemos aqui os vários níveis de representação do Nosso Glorioso nas Festas do Padroeiro de Vila do Conde. A tradição de cantar a faltar um mês e a faltar oito dias para o dia de São João

Apesar de não compreendermos a teimosia da Comissão de Festas ao não incluir estas manifestações populares no respectivo programa, uma vez que os Ranchos são afinal a essência das festas e quem mais gente consegue mobilizar, esta tradição está novamente enraizada na população, depois de alguns anos em que só muito poucos a conseguiram manter. Hoje contam-se já por muitas centenas as pessoas de todas as idades que acorrem às traseiras da Igreja Matriz para esse ritual.Nestas manifestações populares verifica-se por um lado o poder dos ranchos na mobilização dos seus simpatizantes, o que deveria merecer mais atenção e respeito, e por outro lado a fé do povo ao seu Santo Padroeiro.No final, com a mesma alegria e entusiasmo, porventura num ensaio para a grandiosa ida à praia, lá vai o povo atrás do carro com amplificação a cantar e a dançar descendo e subindo a Rua 25 de Abril dirigindo-se depois à nossa sede para assistir ao ensaio de um dos ranchos. A ocasião não é para menos, pois há muito que os corações fervilham de ansiedade à espera do grande dia.

A cascata na Praça de São João:

Como já vem sendo tradição, o Rancho da Praça fez mais uma vez  a cascata de São João, desta vez com a particularidade de integrar nela a imponente figura de São João em pedra, patente naquela praça. Em cada ano que passa a cascata é mais mecanizada e são novos os motivos e quadros apresentados, constituindo a curiosidade das milhares de pessoas que ali param diariamente para a apreciar. Durante os dias que está em exposição, é agradável verificar o interesse das escolas em a visitar como motivo de estudo.Naturalmente que este evento é mais uma oportunidade para que a Gente da Praça se sinta eufórica e envaidecida, pois os agradáveis comentários que se vão ouvindo a isso dão origem. Um dos comentários que com mais frequência se ouve todos os anos, é de que “as cascatas deviam ir a prémio, assim os seus organizadores teriam muito mais rigor na sua confecção e empregariam melhor o subsídio lhes que é dado para tal”. Não podemos deixar passar em claro uma crítica à Comissão de Festas. No Rancho da Praça esforçamo-nos e de que maneira para apresentar com rigor e perfeição tudo o que programamos, gerindo o pouco tempo livre de que dispomos. No caso concreto da cascata, não se admite que tendo pedido atempadamente a ligação de corrente eléctrica para trabalhar toda a noite na sua montagem e poder ligar todos os motores e iluminação necessária, não tenham diligenciado nesse sentido, obrigando-nos a recorrer a geradores alternativos para apresentar a cascata montada no dia da inauguração. Igualmente, pedimos 12 grades metálicas para protecção e salvaguarda de tudo o que lá estava exposto e montado, e só nos entregaram 6. Por esse motivo, encontramos a cascata diariamente vandalizada, demos pela falta de bonecos e, as moedas que as pessoas iam para lá atirando com fé para que os seus desejos fossem realizados, desapareceram completamente.

Não é o valor das moedas que está em causa. Em causa está a falta de segurança e de vigilância, vigilância essa que poderia ser amenizada com as tais grades que não foram entregues. O vandalismo criado diariamente causa uma grande frustração para quem durante muitas dias e noites dedicou tanto do seu tempo para que Vila do Conde e as Festas de São João tivessem mais um ponto de interesse. A lamentar ainda o facto de o lixo que sempre fica depois de qualquer montagem, ter lá ficado durante todo o fim de semana, sendo este um local central de Vila do Conde, o que convenhamos, não é abonatório.Perante tudo isto, estamos a equacionar seriamente se vale ou não a pena continuar a fazer a cascata. O Rancho da Praça preocupa-se em apresentar um trabalho digno. Gasta anualmente três ou quatro vezes mais que a verba atribuída por igual a todas as cascatas. Para nós todos os anos falta alguma coisa. Custa-nos tomar uma decisão destas dado que no fundo é Vila do Conde que perde, mas tão cansados estamos destas situações que, quase podemos adiantar que no próximo ano não faremos a cascata.

A Marcha Luminosa e a dança no pavilhão:

Este ano foram introduzidas significativas alterações e inovações na Marcha Luminosa, nomeadamente através do som, dos arcos, dos carros alegóricos e da actuação no pavilhão, colhendo por isso opiniões muito favoráveis e inúmeros aplausos de incentivo. A abrir a Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Vila do Conde precedida da nova carrinha do Rancho da Praça e do carro alegórico dedicado a Vila do Conde e às rendilheiras. Logo atrás desfilavam os ranchos infantil, das velhas guardas e muitos Pracistas que se quiseram incorporar trajados à tricana, todos com arcos devidamente enfeitados com cores vivas e, com a imagem de São João e a almofada. De seguida, o carro do som que através de 4 potentes colunas difundia as marchas da Praça e galvanizava as pessoas, e o rancho composto por componentes que dançaram entre os anos 70 e 90. A fechar esta marcha enorme, o rancho adulto com arcos novos no feitio de caravelas e o carro alegórico dedicado aos descobrimentos – uma lindíssima caravela quinhentista. É sobretudo de destacar a imponência da Marcha: Pela alegria, entusiasmo e alma com que as várias centenas de participantes cantavam. Pela cor das blusas das raparigas, o brio do fato dos rapazes e pela beleza dos arcos com a sua combinação de cores. Pelos carros alegóricos totalmente dedicados a Vila do Conde, ou não fosse esta uma terra de rendilheiras e de marinheiros Pela sua dimensão, como exemplo diremos só que, o primeiro carro estava na tribuna junto ao Palácio da Justiça e o último ainda na Av. Sacadura Cabral. Pela coreografia e sincronismo de todos os participantes. Depois da Marcha Luminosa, a actuação no pavilhão instalado na Praça de São João. A entrada triunfal e apoteótica dos quatro ranchos ao som da marcha “Viva a Praça”  galvanizou as milhares de pessoas que ali estavam para ver o Glorioso ocupando literalmente aquela praça e a Rua 25 de Abril. Foram proferidas as primeiras palavras da noite e especialmente lembrados os Pracistas que já partiram. De seguida cantou-se o “Hino do Rancho da Praça”. Ainda se ouvem os ecos daquelas milhares de vozes a cantar em uníssono a Canção da Rendilheira. Com a altivez que caracteriza a Gente da Praça, os quatro ranchos abandonaram o pavilhão ao som da marcha “A Praça Altiva”.  

A participação na Procissão:

Como em todos os anos, a Majestosa Procissão de São João percorre as ruas de Vila do Conde no seu trajecto habitual. É comum verificar o sentimento, o respeito e a adoração de toda a gente, independentemente de ir a participar ou de estar apenas a ver. O Rancho da Praça, fez-se representar condignamente com muitos componentes de todos os seus ranchos, numa demonstração clara e inequívoca do quanto representa para nós o Padroeiro.

A ida à praia:

De há uns anos a esta parte, a ida à praia é sem dúvida dos momentos das festas o que cria mais expectativa. Neste ano a regra manteve-se e foi bonito de ver a multidão de Pracistas que afluíram ao “Senhor da Cruz” para participar nesta manifestação popular, onde já lá estavam há muito tempo os carros alegóricos que na noite anterior tinham participado na Marcha Luminosa. Eram pouco mais de 22 horas e eis que, no cruzamento do “Ramon” depois de uma espera interminável, lá aparece o rebanho, lento e descompassado, muito pequeno e sem alma em direcção à praia. Chegados ao quartel general da Praça, são generosamente recebidos pela música do Rancho da Praça difundida pelo carro do som. Ficam assustados, ensurdecidos, e como já nem sabem cantar põem-se aos saltos como se estivessem a atravessar silvados. Depois de “eles” passarem, a Praça organiza-se. À frente a bandeira e logo a seguir o carro das rendilheiras. Logo atrás entra gente e mais gente numa multidão compacta que enche literalmente a rua em toda a sua largura a cantar e a dançar. Novos e menos novos independente do seu extracto social e sexo, dão-se as mãos. Vai o primeiro carro em frente aos correios e ainda não se avista o último a dobrar a esquina do Bompastor. Se alguém alguma vez tinha ou ainda tem dúvidas de que o Rancho da Praça é efectivamente a Associação que consegue mobilizar mais gente, ou é cego ou não quer ver. Estes milhares de pessoas lá seguem em direcção à praia. Aí chegados é altura de cumprir a tradição de cantar ao São João, respondendo às quadras “botadas” como habitualmente pela Desterro Maró. Findo este ritual, a multidão regressa ao “Senhor da Cruz” continuando a cantar e a dançar, cansados mas felizes e satisfeitos porque só Deus sabe se no próximo ano é possível fazê-lo novamente.

Em todos os rostos transparece a alegria por pertencer ao Rancho mais antigo de Portugal.

Carlos Marcelino